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Em 26 de maio de 1968, o Brasil realizou um feito histórico que colocou o país no seleto grupo das nações pioneiras em transplantes de órgãos. Naquela data, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), o Dr. Euryclides de Jesus Zerbini e sua equipe realizaram o primeiro transplante de coração do Brasil — o quarto do mundo. O paciente era João Ferreira da Cunha, conhecido como “João Boiadeiro”. Esta cirurgia não apenas representou um salto na medicina brasileira, mas também abriu caminho para inúmeras inovações na área da cirurgia cardíaca e dos transplantes no país.
Nascido em Guaratinguetá (SP) em 10 de maio de 1912, Euryclides de Jesus Zerbini formou-se em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP) em 1935. Desde cedo, demonstrou interesse por cirurgias torácicas e cardiovasculares. Foi no Hospital das Clínicas da USP que construiu sua carreira, se tornando uma das maiores referências da medicina brasileira.
Ao longo de sua trajetória, Zerbini especializou-se em cirurgias do coração e acompanhou de perto os avanços internacionais na área, especialmente os feitos do cirurgião sul-africano Christiaan Barnard, que realizou o primeiro transplante de coração do mundo em 1967. Inspirado por essa realização e munido de uma equipe altamente capacitada, Zerbini decidiu que o Brasil também poderia fazer parte desse capítulo da história da medicina.
Zerbini também é conhecido por ter fundado o Instituto do Coração (InCor) em 1977, uma das instituições mais importantes da América Latina na área da cardiologia. Seu legado ultrapassa o centro cirúrgico e se consolida como um dos pilares da formação de médicos e cientistas no Brasil.
João Ferreira da Cunha era um homem simples, de origem humilde, conhecido como “João Boiadeiro” devido à sua profissão. Internado no Hospital das Clínicas com uma cardiopatia grave, ele passou a ser avaliado pela equipe de Zerbini como um possível candidato ao novo procedimento que estava em estudo: o transplante de coração.
Apesar dos riscos, João aceitou participar da cirurgia. O coração doado veio de uma jovem que havia sofrido morte cerebral, conceito ainda recente e polêmico à época. A compatibilidade entre doador e receptor, os cuidados intensivos e o tempo de isquemia eram todos desafios enfrentados com tecnologia e conhecimento ainda em fase de desenvolvimento.
A cirurgia foi realizada com sucesso, mas infelizmente João faleceu 28 dias depois, devido a uma infecção generalizada, algo comum na época por conta da imunossupressão ainda limitada. Mesmo assim, sua participação representou um divisor de águas para a medicina brasileira.
O procedimento foi realizado no Hospital das Clínicas da FMUSP, sob liderança do Dr. Zerbini e com uma equipe formada por profissionais altamente especializados. Durou cerca de quatro horas.
Naquela época, os protocolos para transplantes estavam sendo moldados quase em tempo real. A cirurgia exigiu inovações como a utilização de coração parado e conservado a frio, além de cuidados extremos no controle de rejeição imunológica, ainda pouco compreendida.
Apesar da curta sobrevida do paciente, o procedimento foi considerado um sucesso científico. Demonstrou que o Brasil possuía condições humanas e técnicas para realizar um dos procedimentos mais complexos da medicina moderna.
A realização do transplante de coração repercutiu de forma massiva na imprensa nacional e internacional. A comunidade médica passou a enxergar o Brasil como um país com capacidade para realizar cirurgias de ponta. O feito de Zerbini impulsionou a criação de novos centros especializados, além de atrair investimentos e colaborações internacionais para a área da saúde.
Outro impacto importante foi a maior discussão sobre legislação, ética médica e conceitos como a morte cerebral, fundamentais para a evolução da transplantação de órgãos. A população brasileira também começou a ser mais sensibilizada sobre a importância da doação de órgãos.
O primeiro transplante de coração do mundo foi realizado em 3 de dezembro de 1967, na Cidade do Cabo, África do Sul, pelo Dr. Christiaan Barnard. Apenas alguns dias depois, os Estados Unidos também realizaram seus primeiros procedimentos com os Drs. Adrian Kantrowitz e Norman Shumway.
O Brasil foi o quarto país do mundo a realizar esse tipo de cirurgia. Isso coloca a equipe do Dr. Zerbini em um patamar de protagonismo global, especialmente considerando as dificuldades tecnológicas e logísticas da década de 1960 no país.
Atualmente, o Brasil é um dos países que mais realiza transplantes no mundo. Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), são realizados milhares de transplantes de órgãos por ano, incluindo centenas de transplantes de coração. Apenas em 2024, foram realizados mais de 30 mil procedimentos, sendo 440 somente de coração, de acordo com os números divulgados pelo Ministério da Saúde.
Os principais centros de referência incluem o InCor (SP), o Hospital de Messejana (CE) e o Hospital de Base (DF). As técnicas evoluíram significativamente, com melhores imunossupressores, monitoramento genético e tecnologias de preservação de órgãos.
Apesar disso, ainda existem desafios: a fila de espera por um coração é longa e depende da generosidade de doadores e de suas famílias. Por isso, campanhas de conscientização continuam sendo fundamentais.
A história do transplante de coração no Brasil é também a história da coragem, da ciência e da dedicação de profissionais como o Dr. Zerbini e de pacientes como João Boiadeiro. Mais que uma cirurgia, o evento de 1968 simboliza o poder transformador da medicina e da solidariedade humana.
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Transplante de coração: um marco que mudou o passado e continua inspirando o futuro.
Por trás dos avanços que tornaram o transplante de órgãos uma realidade mais segura e precisa no Brasil, existem nomes que ajudaram a transformar esse cenário, trazendo mais esperança para quem precisa passar por esse procedimento. E dentre eles está Dr. Jorge Neumann, um dos nomes mais influentes da imunologia aplicada à medicina de transplantes.
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