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A doação de órgãos é um dos maiores gestos de solidariedade que alguém pode fazer. Cada órgão doado tem o potencial de salvar ou transformar uma vida, mas esse processo envolve uma complexa rede de decisões, avaliações, exames, logística e tecnologia até o transplante se concretizar. Conhecer as etapas da doação de órgãos ajuda não apenas a desmistificar o processo, mas também a conscientizar a população sobre a importância de se declarar doador.
Segundo o relatório do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), mais de 66 mil pessoas aguardavam por transplantes no Brasil até setembro de 2024. Esse dado reforça a urgência de debatermos e compreendermos o caminho que um órgão percorre até chegar ao receptor.
O primeiro elo na cadeia da doação é a decisão voluntária de doar órgãos. Ela pode ocorrer em vida, nos casos de doadores vivos (como no transplante de um rim ou parte do fígado), ou após a morte encefálica, nos chamados doadores falecidos.
Por muitos anos, a única maneira de garantir que alguém fosse doador era comunicar essa decisão à família. No Brasil, mesmo que a pessoa tenha manifestado seu desejo em vida, a autorização dos familiares ainda era obrigatória. No entanto, isso começou a mudar com a chegada da AEDO — Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos, uma iniciativa inovadora que traz segurança jurídica e agilidade ao processo.
A AEDO é um sistema digital que permite a qualquer cidadão manifestar formalmente a vontade de ser doador. Essa declaração tem validade jurídica e pode ser utilizada para garantir o respeito à vontade do falecido, reduzindo o sofrimento da família no momento da decisão e aumentando as chances de concretizar a doação. A adesão pode ser feita de forma simples, pelo celular, com autenticação por reconhecimento facial.
Além disso, a AEDO está integrada ao Sistema Nacional de Transplantes, facilitando a consulta em tempo real por parte dos hospitais e das centrais de transplantes.
No caso de doadores falecidos, a doação só pode acontecer após o diagnóstico de morte encefálica, condição irreversível em que há ausência total de atividade cerebral, mesmo que o coração continue batendo com ajuda de aparelhos.
O diagnóstico de morte encefálica segue protocolos rigorosos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), incluindo dois exames clínicos realizados por médicos distintos e um exame complementar (como o eletroencefalograma ou o Doppler transcraniano).
Após o diagnóstico, o hospital notifica a Central Estadual de Transplantes, que aciona as equipes responsáveis pela entrevista familiar e pela verificação da viabilidade da doação.
Com a autorização confirmada, inicia-se a avaliação completa do potencial doador. Nessa etapa, são realizados diversos exames para verificar o estado de saúde dos órgãos e se há contraindicações à doação.
Entre os exames mais comuns estão:
Esses exames garantem que os órgãos doados estejam em boas condições e que não ofereçam risco ao receptor.
Essa é uma das etapas mais delicadas e tecnicamente avançadas da doação de órgãos. A distribuição dos órgãos é feita pelo Sistema Nacional de Transplantes, considerando critérios como:
O teste de histocompatibilidade, também chamado de tipagem HLA (Antígenos Leucocitários Humanos), é essencial para evitar a rejeição do órgão pelo sistema imunológico do receptor. Ele compara o match HLA entre doador e os possíveis receptores, buscando a melhor combinação possível.
Com os exames finalizados e os receptores definidos, as equipes de captação são acionadas para a retirada dos órgãos doados. Essa etapa exige precisão cirúrgica e coordenação logística, pois o tempo é um fator crítico.
Cada órgão tem um tempo máximo fora do corpo (isquemia fria) para garantir sua viabilidade:
O transporte dos órgãos é feito com auxílio de aeronaves, ambulâncias e até escoltas policiais, dependendo da urgência e da distância. O uso de caixas térmicas específicas e soluções preservadoras garante a integridade dos tecidos.
Enquanto os órgãos são transportados, os receptores são rapidamente preparados para a cirurgia. Isso inclui exames laboratoriais, administração de medicamentos imunossupressores e avaliação clínica para garantir que estejam aptos a receber o órgão.
A cirurgia de transplante pode durar de 3 a 12 horas, dependendo do tipo de órgão. Equipes altamente especializadas conduzem o procedimento com todo o suporte necessário, incluindo UTIs e infraestrutura hospitalar de ponta.
Após o transplante, o acompanhamento é contínuo e crucial para o sucesso da cirurgia. O receptor precisa tomar medicamentos imunossupressores por toda a vida, para evitar que seu sistema imunológico ataque o órgão transplantado.
Além disso, exames periódicos são realizados para monitorar a função do órgão e detectar sinais precoces de rejeição.
O caminho do órgão até o receptor envolve tecnologia de ponta, profissionais dedicados, decisões familiares difíceis e, acima de tudo, empatia. Conhecer as etapas da doação de órgãos é uma forma de valorizar o esforço coletivo por trás de cada transplante e encorajar mais pessoas a participarem desse processo.
Se você deseja ser um doador, registre sua vontade pela AEDO e converse com seus familiares. Um gesto simples pode significar uma vida inteira para outra pessoa.
A série documental “Operação Transplante”, da Max e Discovery Home & Health, acompanha 18 pacientes na fila por um órgão no Brasil e revela os bastidores emocionantes do processo de transplante.
Em 8 episódios, a produção mostra os desafios enfrentados pelas equipes médicas, os dilemas das famílias e os obstáculos que ainda cercam a doação de órgãos no país — como falta de informação, mitos e resistência familiar.
Mais do que um retrato técnico, a série traz uma visão humana e realista sobre as etapas da doação de órgãos, da decisão de doar até o momento do transplante. Uma excelente recomendação para quem quer entender melhor esse processo e se sensibilizar com histórias reais de esperança e superação.