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No mundo dos transplantes, poucos nomes carregam tanto peso e significado quanto Paul I. Terasaki. Conhecido simplesmente como Terasaki entre médicos, pesquisadores e pacientes, ele foi o cientista que revolucionou a compatibilidade entre doadores e receptores, tornando os transplantes mais seguros e bem-sucedidos. Sua contribuição ultrapassa a barreira do laboratório: é uma história de perseverança, inovação e dedicação à vida humana.
Paul Ichiro Terasaki nasceu em 10 de setembro de 1929, em Los Angeles, Califórnia, filho de imigrantes japoneses. Sua infância foi marcada por um dos capítulos mais difíceis da história dos Estados Unidos: durante a Segunda Guerra Mundial, sua família foi forçada a viver em um campo de internamento para nipo-americanos. Essa experiência de superação e resiliência moldou seu caráter e determinação.
Mesmo diante das adversidades, Terasaki buscou o caminho acadêmico. Formou-se em Zoologia pela University of California, Los Angeles (UCLA), onde também concluiu seu mestrado e doutorado. Após o PhD, realizou um pós-doutorado na University College London sob a orientação de Sir Peter Medawar, considerado o “pai” da imunologia dos transplantes. Esse contato foi decisivo para despertar sua paixão por compreender o sistema imunológico e seu papel na rejeição de órgãos.
Em 1964, Paul Terasaki desenvolveu o teste de microcitotoxicidade, um método inovador para identificar antígenos HLA (Human Leukocyte Antigens) com apenas 1 microlitro de soro. Essa economia de amostra foi um marco: permitiu que a tipificação tecidual se tornasse prática, rápida e acessível.
Em poucos anos, o método criado por Terasaki foi adotado como padrão nacional nos Estados Unidos em 1968 e, logo depois, tornou-se o padrão internacional em 1970. Ele permitia que laboratórios no mundo inteiro realizassem análises de compatibilidade de forma padronizada, aumentando a segurança nos transplantes.
O teste de Terasaki não beneficiou apenas transplantes renais — seu impacto se estendeu a procedimentos envolvendo coração, fígado, pulmões e medula óssea. Além disso, a tipificação HLA passou a ser usada em estudos de paternidade e na investigação de associações entre genes e doenças.
Graças a essa inovação, milhões de pacientes no mundo tiveram maiores chances de receber órgãos compatíveis e evitar rejeições perigosas.
A genialidade de Terasaki não se limitou ao microteste HLA.
Paul Terasaki também deixou sua marca como líder acadêmico e mentor.
Seu trabalho e liderança o levaram a presidir importantes entidades como a International Transplantation Society e a American Society of Histocompatibility and Immunogenetics.
Após se aposentar da UCLA em 1999, Paul Terasaki fundou o Terasaki Foundation Laboratory, que se transformou no atual Terasaki Institute for Biomedical Innovation. A instituição continua desenvolvendo pesquisas avançadas, incluindo imunoterapia para câncer e estudos sobre imunidade humoral.
A relação de Terasaki com a UCLA nunca foi apenas profissional: ele se tornou um dos maiores doadores da universidade, contribuindo com mais de US$ 58 milhões. Entre suas doações, destacam-se os US$ 50 milhões para a construção do Terasaki Life Sciences Building e o apoio ao Paul I. and Hisako Terasaki Center for Japanese Studies, voltado para a pesquisa cultural e acadêmica.
Ao longo de sua carreira, Terasaki recebeu diversos prêmios, incluindo:
Essas premiações reforçam a magnitude de sua contribuição para a ciência e para a sociedade.
Paul Terasaki foi casado com Hisako Terasaki e teve quatro filhos. Faleceu em 25 de janeiro de 2016, em Los Angeles, aos 86 anos, deixando um legado imensurável. Seu nome permanece vivo em laboratórios, hospitais e universidades ao redor do mundo.
Graças a Terasaki, a tipificação tecidual evoluiu para um nível de precisão que salvou e continua salvando milhões de vidas. Sua história é um exemplo de como a ciência, aliada à perseverança, pode transformar o futuro da medicina.
O trabalho de Paul Terasaki não apenas transformou a prática de transplantes, mas também estabeleceu as bases para avanços contínuos em imunologia e biotecnologia. Para a Biometrix, compartilhar esse legado é também reforçar a importância da inovação e da pesquisa científica para salvar vidas — valores que continuam a inspirar a comunidade médica e científica em todo o mundo.
Com uma abordagem técnica e humana, os episódios mergulham na trajetória do Dr. Neumann e na evolução do diagnóstico HLA no Brasil — etapa fundamental para a compatibilidade entre doadores e receptores.